Para quem lê habitualmente a revista "Veja" com o mínimo de espírito crítico, não é novidade alguma a constatação de que um de seus principais colunistas, Diogo Mainardi, empenhou sua vida profissional em uma só aspiração: falar mal do Presidente Lula. Em todas as suas colunas, sempre há um parágrafo, um período ou, ao menos, um aposto, sutilmente colocado, com o intuito de tentar desqualificar o governo dos petistas. A esta corrente político-ideológica que tenta simplificar as complexas causas da corrupção brasileira às supostas artimanhas do Governo Lula, passo a dar ("singelamente") o nome de "mainardismo".
Não quero aqui tecer uma apologia ao Governo Lula, na medida em que nosso ilustre presidente, ao costurar acordos políticos esdrúxulos e ao adotar práticas de governo pouco ortodoxas, concedeu farta munição àqueles que sempre "torceram o nariz" à ideia de terem, na chefia do Poder Executivo nacional, um cidadão oriundo do sindicalismo e das camadas socias mais baixas. Deve ser esta a razão pela qual "Dioguito" teve a audácia de se referir a Lula como "sua anta". Será que teria coragem de fazer tal ofensa a um Presidente da República nos tempos de Médici?
Entretanto, o que Mainardi e sua trupe tentam vender aos leitores não passa de mero estelionato intelectual. Colocar sobre os ombros de um governo cuja posse ocorreu em 2003 a responsabilidade irrestrita sobre o que há de mais espúrio e corrupto na Administração Pública brasileira é mais do que covardia: é estupidez. E os donos do Brasil-Colônia, que recortaram esse país em capitanias e esvaziaram o país de suas riquezas, enviando-as para a grande Metrópole? E as mazelas do Brasil-Império, na qual a Primeira Constituição de nossa história foi assinada com uma baioneta militar e chancelada pela criação de um Poder Moderador (acima do Executivo, do Legislativo e do Judiciário)? Isso sem falar em nossa "república do café-com-leite", da ditadura varguista e da "quartelada" ignóbil de 1964, à qual alguns adeptos do "mainardismo" dão a cretina qualificação de "ditabranda". Será que muito do que vemos nas esquinas das grandes cidades e nos gabinetes de Brasília não passa por uma espécie de "herança político-cultural", haja vista a história desse país que foi projetado para não dar certo?
Além disso, "Dioguito" tenta atacar os brios do brasileiro médio, qualificando-o como um sujeito sem "maiores aspirações intelecto-culturais". Mas o que eu gostaria de decifrar (sem o receio de ser devorado) são as aspirações do "mainardismo". Seria desqualificar um governo? Seria desqualificar um povo? Seria desqualificar uma Nação?
Seja qual for a resposta, o que Mainardi e seus (fanáticos) seguidores precisam entender é que estamos em 2009. E, com o avanço dos debates político-ideológicos por vários sítios da internete, fica difícil para os adeptos do "mainardismo" disseminar suas teorias preconceituosas e com bases visivelmente fascistas. E se quiserem aspirar a algum futuro mais promissor, comecem revisando a sua própria ortografia. Escrever "Lula" com dois eles soa tão falso e cretino como defender a tese de que não tivemos ditaduras no Brasil.
E o que eles irão escrever, caso o PT se desvecilhe do poder, após as eleições presidenciais de 2010? A impressão que os "mainardistas" me passam é que não tinham nada a dizer antes de 2003, passaram os últimos oito anos ditando uma "ideologia de uma nota só" (a "antilulista") e voltarão ao silêncio intelectual, caso Dilma não seja a escolhida para chefiar o Poder Executivo da União. Como são pobres as aspirações de "Dioguito" e de sua trupe de fanáticos!
Rio 2016: Uma Olimpíada "no quintal de casa"
Não se fala em outra coisa no país, desde a última sexta-feira: o Rio de Janeiro, depois de duas tentativas malogradas (em 2004 e em 2012), irá sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Curioso é que, pelas ruas da Barra e do Centro da cidade, ouvi opiniões das mais diversas magnitudes, desde os mais ufanistas, que defendiam ingenuamente que a realização das Olimpíadas irá resolver todos os problemas que acometem nossa cidade, até aqueles não menos extremistas, que afirmam categoricamente não aprovarem a realização dos Jogos de 2016 aqui no Rio, posto que será uma verdadeira farra de recursos públicos gastos sem o menor controle, além do previsível uso político-eleitoral que se fará da realização do Evento.
Faço minhas as palavras do colunista esportivo FERNANDO CALAZANS, que, em sua coluna no jornal "O GLOBO", do último domingo, destacou que, apesar da rigorosa fiscalização que os órgãos competentes (leiam-se: Tribunais de Contas e Ministério Público) terão de fazer, para que não haja, nas Olimpíadas, a farra do dinheiro público que se deu no PAN 2007, pensa que, depois de uma escolha tão importante como essa, o cidadão carioca deve se sentir tão-somente um cidadão feliz.
A despeito de todos os perigos que rondam a realização de um evento dessa dimensão, só me resta fazer coro à proposição de CALAZANS e torcer para que, ao final de tudo, com o legado esportivo e social que os Jogos de 2016 poderão deixar à cidade maravilhosa, tenhamos motivos pra nos tornarmos, de fato e de direito, cidadãos felizes.
Ao menos, já temos o que comemorar: se o povo carioca não repetir as imbecilidades de 1992, 2000 e 2004, César Maia, o prefeito-mor de todos os manicômios, estará afastado da organização do Evento.
Gaspari e as trapalhadas
No último domingo, antes de ir para a cama, li a coluna de ELIO GASPARI, no jornal "O GLOBO", e fiquei entusiasmado com a sua nota intitulada TRAPALHADAS, na qual o colunista tecia uma justa crítica ao Governador de São Paulo, José Serra, do PSDB. Segundo Gaspari, Serra, ao classificar como "tremenda trapalhada" a ação da Diplomacia Brasileira no caso do abrigo concedido ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya; esqueceu-se de que "trapalhadas" semelhantes lhe salvaram a vida, quando foi exilado no Chile, durante o Golpe Militar de 1964, e quando teve de deixar o território chileno, após a odiosa "quartelada" que depôs o Presidente Allende, em 1973.
Perfeitas as considerações do velho Gaspari. Mas acho que ele deveria atentar também para suas próprias "trapalhadas".
Ainda está faltando uma retratação pública de uma "trapalhada" que o próprio Gaspari cometeu, quando qualificou como "terrorista" Diógenes Carvalho, um militante contra a ditadura militar que perdeu uma das pernas lutando contra o regime. Até porque, se tivéssemos que escolher uma dessas "trapalhadas" como a mais infeliz, não saberia em qual delas votar. Se na do Governador tucano, que se referiu de forma esdrúxula a um instituto (asilo político) que lhe salvou a vida durante os anos de chumbo, ou se na de Gaspari, que, de forma odiosa e imcompreensível, tentou transformar vítima em algoz. Acho que, desta vez, estamos diante de uma escolha de venenos.
Seção "Perguntar não ofende":
O que o Senador-Bispo Crivella (PRB/RJ) esteve fazendo em Copenhague, durante a cerimônia da escolha da cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016? Que ele adora uma boca-livre com o dinheiro alheio, todos nós sabemos desde priscas eras. Mas, pelo menos, quando ainda contava dinheiro das sacolinhas que costumava arrecadar (muito antes de se tornar o "fantoche" favorito de Macedo no Senado) ele costumava disfarçar.
Momento "Alimentos para a alma".
Depois de "Panis et circenses", com sua bem elaborada crítica social, quero destacar aos amigos a belíssima "Como nossos pais", de Belchior (numa época em que ele não "fugia" pra alavancar a audiência de programas dominicais de TV), na voz da maior cantora do Brasil de todos os tempos, nossa inesquecível "pimentinha" Elis Regina. Gosto dessa música porque ela se consubstancia em uma verdadeira análise do que aconteceu após as agitações que sacudiram o mundo, na década de 60, Só ouso discordar do mestre Belchior quando ele diz que sua geração era a mesma e vivia como a de seus pais. Depois das batalhas travadas nos minados campos da cultura e da política naqueles rebeldes anos, ninguém nunca mais iria viver como a geração de seus pais. Até mesmo as dores das gerações vindouras são diferentes. Estamos nas barricadas entre o contemporâneo e o convencional, entre o (pretensamente) sacro e o profano. Mas isso é tema para outras postagens.
Antes de findar minhas postagens por esta noite, gostaria de agradecer a este grande brasileiro, a este guerreiro de alma nobre chamado CELSO LUNGARETTI, pela grande repercussão que deu ao nosso artigo "Depois da 'ditabranda', a 'ditassanta'.". Como já tive a oportunidade de dizer a ele, não pertencemos à mesma geração. Mas tenho a mais profunda das consciências de que a liberdade que respiramos hoje foi obtida pelo empenho das dores de jovens como você que ousaram sonhar numa época em que a estupidez vestia fardas e governava o país, tendo como legitimitade a ignorância e a violência. Obrigado, companheiro. Por essas e por outras lutas.
Um abraço a todos. Amanhã tem mais!
Diogo, o requentado (
ResponderExcluirNa véspera do 1º turno das eleições presidenciais de 2005, fui agraciado com a publicação do meu artigo “Voto Nulo e Desobediência Civil”na TI, onde eu cito Henry Thoureaux, o grande e original percursor do que se conhece como Desobediência Civil, que se tornou historicamente uma forte alternativa popular de protesto e até de derrubada de regimes, como foi na Índia de Mahatma Ghandi.
Estes dias, estava eu folheando uma sujíssima revista semanal carioca datada da ante véspera do 2º turno, quando me deparo com um artigo do minúsculo yuppe pseudointelectual Diogo Mainardi.
Surpreendeu-me ver H. Thoureaux no título do artigo. Ao lê-lo, deparei-me com um verdadeiro estelionato intelectual a tudo que o libertário educador estadunidense nos legou.
Recorro novamente a James Petras (Tribunal Russel para a América Latina) em seus “Ensaios Contra a Ordem”, onde também descreve os mecanismos de cooptação de pseudointelectuais e cientistas para a defesa das teses neoliberais capitalistas, notadamente com a imposição do que se chamou de globalização. Nos descortina também a forma insidiosa de como estes pseudointelectuais se utilizam dos jargões e mesmo de conceitos teóricos ou ações contestatórias ao sistema (“establishment”), como Thoureaux nos legou, para distorcerem e darem uma nova roupagem e significados adaptados às teses neoliberais perversas.
Portanto, Diogo Mainardi é um velho e requentado “case” de livro. É uma empulhação bem paga que posa de “independente”. Independente, com o perdão da autoreferência, somos nós que, a despeito da perda de oportunidades profissionais mantivemos a nossa crítica a esta peste econômica e política que foi institucionalizada por Collor e FHC, e é aprofundada por Lulla. Escrever sem remuneração e se expor criticamente ao poder, em detrimento das próprias oportunidades profissionais (afinal sou médico veterinário militante, mas indexado) é que se constitui autonomia. Ainda bem que a nossa TI possibilita isso.
Já o nosso polichinello pequeno burguês escolhe o neoliberalismo que gosta mais. E é aquele que emprega os seus amigos e ideólogos. E que possibilita receitas financeiras para determinados órgãos de comunicação, para a contratação regiamente paga destes pseudointelectuais falcatruas, para operarem a lavagem cerebral e conferir “credibilidade” às insanas políticas das elites internacionais e brasileira.
O que incomoda Dom Mainardi é que a turma do PT foi mais esperta e hoje é quem opera a exploração dos brasileiros e a entrega de nossas riquezas, mudando de mãos assim, o dinheiro lavado de sangue, suor e lágrimas do nosso desnorteado povo, a soldo de generosas gorjetas e negociatas que enriquecem a nova burocracia petista e apaniguados.
Já, o que me incomoda é que a sociedade brasileira além de ter sido traída por aqueles que alçaram ao poder com a energia mudancista que vimos na primeira eleição de Lulla, nesta segunda eleição foi induzida a aceitar as esmolas vigentes e versões mentirosas sobre fatos graves, enquanto continua a entrega do país.
Assim, denuncio aqui uma tentativa de estelionato cultural e intelectual da obra e postura de vida de Henry Thoureaux, pelo diminuto Diogo Mainardi.
Não é falta de clareza política ser empregado e porta voz daqueles que cometeram os mesmos e graves crimes lesa povo que o atual presidente Lulla e vir posar de bacana, dizendo que vai parar de pagar impostos (na verdade só os pobres não conseguem isso), exortando, vejam só, a manifestações públicas contra a ordem, maldizendo os novos algozes do povo brasileiro, mas comendo na mesa de nossos assassinos econômicos. Na minha opinião, isso é falta de caráter.
Wow!!
ResponderExcluirEu tenho tanta coisa para dizer sobre Elis e esta canção em especial... Você conseguiu um vídeo com uma boa qualidade. Ainda não havia assistido a este. Você já leu "Furacão Elis"? - sua biografia. Tantos cantantes já tentaram interpretar (cantar não é necessariamente interpretar, pelo contrário, o mercado está repleto de cantantes não intérpretes) esta canção depois de Elis... sem sucesso. Quanta intensidade! Quanta gana! Quanta verdade em cada palavra pronunciada com emoção!
Fica para sempre!