terça-feira, 29 de setembro de 2009

Depois da "ditabranda", a "ditassanta"

Causaram extrema revolta as estapafúrdias declarações públicadas pela Folha de São Paulo, no início deste ano, relativizando os malefícios e a violência perpetrados pela ditadura militar aqui instaurada em 1964. E como estupidez pouca é bobagem, o jornal paulista ainda se permitiu a audácia de criar um calhorda neologismo para representar o que o editorial da Folha quis "vender" como uma "leve" crise institucional necessária para se evitar a "ameaça comunista" : a famigerada "ditabranda". Esta afronta ficou engasgada nas gargantas daqueles que lutaram contra um regime de arbítrio e de brutalidade, que exterminava e torturava jovens idealistas que tinham em seu âmago o sonho de ver o Brasil livre de cretinos abutres que, para defender os interesses norte-americanos, venderam o país e deixaram os quartéis para tomarem criminosamente o poder, lançando o país em um profundo esgoto político durante mais de 20 anos.

Mas, deixando as esquizofrenias de Frias Filho & Cia de lado, percebo que o país novamente corre sério perigo de ser vilipendiado por mentes tão liberticidas quanto os líderes do golpe de 64, só que ainda mais cruéis: as grandes organizações evangélicas. Notem, caros amigos, que não me atrevi a me referir a tais entidades utilizando o vocábulo "Igreja", posto que, pela quantidade de dinheiro e de poder político que as mesmas ostentam, não podemos ter a visão de que essas verdadeiras "sociedades empresariais" tenham a essência de meros templos de oração.

Se tomarmos a Igreja Universal do Reino de Deus como exemplo, veremos números que deixariam o Delegado Fleury se contorcendo lá no sétimo inferno. A trupe de Bispo Macedo
et caterva "arrebanhou", nos últimos 8 anos, segundo investigações criminais perpetradas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, cerca de 8 bilhões de reais. Sem contar nas empresas de lavagem de dinheiro abertas no Brasil e no exterior e na verdadeira "lavanderia-mor" que se transformou a Rede Record de Televisão, uma emissora de televisão transformada em "brinquedinho" nas mãos de um psicopata alimentado pelo fanatismo religioso e que tem como obsessão desbancar as Organizações Globo como o maior império de comunicações do Brasil.

Mas nenhum desses golpes é mais sério do que aquele em que a IURD e suas "coirmãs" estão engendrando contra o Estado Democrático de Direito. Como se não bastasse "passar a sacolinha" para recolher o dinheiro de pobres diabos que têm medo de raciocinar por si só, os "eleitos de Deus" resolveram criar até partido político, além de alastrarem (como competentes células cancerosas que são) por diversos partidos de aluguel. Só na chamada Frente Parlamentar Evangélica, criada em 2003 para, segundo os seus criadores, "legislar em prol da palavra de Deus", há cerca de 47 deputados e 3 senadores. E, lamentavelmente, a julgar pela farra da venda de horários nas emissoras de televisão para pastores, bispos e afins, esse número tende a aumentar nas próximas eleições para o Congresso Nacional, em outubro de 2010.

Os efeitos dessa "evangelização política" já são visíveis: a lei "anti-homofobia", que criminaliza atos de discriminação contra gays, bissexuais e transexuais, está se arrastando pelo Congresso há quase 10 anos. Além disso, há leis estaduais que recriam a (odiosa) obrigação de se oferecer ensino religioso nas escolas (numa clara ofensa ao princípio da liberdade de crença, que consagra, inclusive, o direito de não professar fé alguma). Isso sem contar com projetos que querem criminalizar práticas religiosas afro-brasileiras.

E os questionamentos que se fazem neste momento são os seguintes: será que vamos assistir a isso tudo com letargia e tolerância? Será que não foi o suficiente engolirmos 21 anos de desmandos, mentiras e mortes patrocinados pelos militares golpistas? Será que, depois de termos vivido os horrores de uma "ditaburra", teremos que aguentar uma "ditassanta"? Por Deus, não pode ser! Temos que encontrar um meio de denunciar toda essa canalhice cristã, antes que o apocalipse político se instaure, lançando por terra liberdades e garantias constitucionais assinadas na Constituição com o sangue de muitos que lutaram contra o regime de exceção. Mas, nossa batalha será muito mais difícil do que derrubar as mentiras e os atos realizados por Médici. Afinal, como contrariar um indivíduo que fala em nome de Deus? Que os ceús nos defendam da "ditassanta".

Por All Mon

13 comentários:

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  2. Um dos posts mais bem escritos que já li! Que capacidade de organizar uma crítica!

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  3. Meu caro, apóio 100%.

    Também tenho feito minhas denúncias contra a IURD, como quando vandalizou terreiro de umbanda no RJ.

    Isto para não falar da matança perpetrada pelo Exército no Morro da Providência, com os militares atuando como capitães-do-mato para o Crivella, sobrinho do Edir Macedo.

    Minha esposa fez um extraordinário TCC sobre a IURD. Fiquei estarrecido com o que ela levantou. Não tenho dúvidas que cabe o enquadramento dessa quadrilha nos crimes de estelionato, curandeirismo e lavagem cerebral.

    Por que o Ministério Público Federal se omite, na sua opinião?

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  4. Gostei tanto do seu artigo que acabei utilizando-o como base do meu texto de hoje, colocado nos vários espaços de que disponho e distribuído para toda minha rede virtual:
    http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2009/10/novo-blogue-adverte-contra-o-risco-de.html

    Um forte abraço!

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  5. Atribuir o "sucesso" da IURD e dezenas de igrejas comerciais pelo Brasil, à obra deles mesmos, ou de Deus, é nadar na superfície.

    É o Poder político que, em todos os tempos, tem bancado a primazia destes facínoras tipo Bispo Macedo e outros, na ribalta das atividades "sociais-religiosas", e agora políticas.

    Quando era o Collor e depois o FHC no Poder Político, a IURD fazia o trabalho de "demonizar Lulla", no que estavam lado a lado com a Rede Globo e co-irmãs, e a bom soldo.

    Depois, antenado e profissional que é, quando o Bispo Macedo viu a possibilidade de entrar para valer no jogo político, com Partido Político, e a possibilidade de avançar em postos no Centro do Governo, e percebendo que a vez seria do Lulla, foi fácil.

    Tanto foi que o Vice do Lulla é o Zé de Alencar, do Partido do Bispo, e sabe-se lá que ligações outras, como lavagem de dinheiro, etc. e tal, que possa ter. Não coloco minha mão no fogo por este empresário com cara de vovô bonzinho.

    Assim, recentemente vimos uma roda de oração com Lulla, D. Marisa, Dilma,o "bispo" Marcelo Crivella, e aquele casal de larápios conhecidos como Bispo e Bispa Hernandez, orientadores espirituais de idiotas como o jogador de futebol KaKá que, ao que consta, "costurou" este encontro macabro.

    Assim, a meu ver, atacar estas igrejas comerciais, sem atacar quem possibilita ascensão política de seus chefes, é de um infantilismo e inocuidade política sem tamanho.

    Hoje, é o Lullo-Petismo que banca com verbas institucionais e alianças políticas, a ascensão desta gente. Não nos esqueceçamos, e é só verificar no mapa de alianças políticas das eleições municipais passadas, que o PC do B fez uma aliança nacional, ao menos nas proporcionais (vereadores), com o Partido do Bispo Macedo, inclusive tendo um de seus representantes como vice da candidata deste partido Ex-Comunista, atual Comensal, à prefeitura de Belo Horizonte.

    Jabutis não sobem em árvores. É sempre alguém que os coloca por lá. Bater no Jabuti sem denunciar quem o colocou em cima da árvore é fazer o trabalho pela metade.

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  7. Ao caro Raymundo,

    Primeiramente, obrigado por prestigiar nosso espaço de debates.

    Respeito sua opinião, mas creio que sua análise foi incompleta. Se você atentar ao meu artigo, verá que em momento algum isentei o Poder Público de sua responsabilidade nesse desproporcional crescimento das "organizações evangélicas" (repare que não me referi tão-somente à IURD, mas a todos esses verdadeiros "Conglomerados da fé").

    Além disso, você cita os relacionamentos espúrios entre o Estado brasileiro e essas "igrejas" a partir do governo Collor. Quero lembrá-lo de que a IURD, por exemplo, existe desde 1977. E cresceu de forma assustadora durante os anos 80 (você sabia que a TV Record foi comprada por Macedo e sua quadrilha em 1989, antes da eleição de Collor?). Portanto, meu caro, não "nado na superfície" quando digo que essas entidades cresceram graças à falta de caráter de seus líderes e ao desespero de seus fiéis. E falo do que vivi na pele. Talvez, você conheça as práticas das IURD's pelo (pouco) que vê pelos noticiários. Eu frequentei durante 3 anos uma dessas "células" comerciais, ouvia seus comentários no fim de cada culto, conversei com muitos ex-bispos e pastores. Por isso, afirmo que atribuir o sucesso das igrejas evangélicas tão-somente à ingerência político-partidária, é contar a história pela metade.

    Por fim, quero deixar bem claro que minha intenção neste espaço não é completar "trabalho" algum. Até porque, caro Raymundo, você já deveria saber que um artigo publicado reflete tão-somente a visão de mundo de quem o escreve (com a qual podemos discordar ou aquiescer). Mas, o que vale mesmo é provocar a manifestação das pessoas. É saber o que elas verdadeiramente pensam sobre um determinado assunto. Em suma, você se equivoca totalmente quando pensa que quero fornecer uma síntese já concluída sobre os temas dos quais irei tratar por aqui. Ofereço tão-somente a tese. Cabe aos leitores (assim como você o fez) me trazerem a antítese.

    Um abraço

    All Mon

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  9. E, ao Raymundo, só mais uma assertiva: achar que entidades cujos "contigentes" ultrapassam a marca de um milhão e meio de pessoas crescem tão-somente pelo apoio do Poder Público é uma demonstração cabal de ingenuidade.

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  10. Aos amigos Celso e Max,

    Muito obrigado pelas palavras de incentivo. Que este artigo, que não tem a pretensão de estabelecer novas "verdades absolutas", possa fazer as pessoas refletirem sobre essa gravíssima ameaça ao Estado Democrático de Direito no Brasil

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  11. Creio que cumpri bem os seus objetivos de "estimular opiniões" sobre o tema. O chato é que nem sempre elas são de total concordância e sintonia com o enfoque escolhido pelo articulista.

    Se lestes bem o que escrevi, não atribuo só ao Lulla o fortalecimento da IURD e congêneres. Mas a promiscuidade partidária e político intitucional foi realmente acentuada e fortalecida a partir de Color, alavancando em muito estas igrejas. E isso está bem denotado em meu comentário.

    Também não disse que o crescimento destas igrejas foi "tão somente pela ingerência político partidária". Acho que não lestes bem. O que eu disse é que elas foram fortemente alavancada com isso. E arremato dizendo que a permissividade anterior, com pouca fiscalização e acordos políticos locais de agora, por parte dos poderes políticos são sim, causa do aumento avassalador deste câncer a ser estirpado da sociedade, seja com qual preço for.

    A minha análise política é pública, se Lula e o Lullo Petismo não são a origem de TODOS os males do Brasil, é vero que estes são muito responsáveis pela entronização definitiva e sem muitos questionamentos destes males, como coisas naturais, que "fazem parte" da lida política. Esta é a ess:encia da Era Lulla. Além da entrega do país.

    Portanto, nos dia de hoje, escrever contra estas igrejas sem DENOTAR EM DESTAQUE a promiscuidade entre um Lulla , PT, PC do B e caterva com esta gente, é sim, a meu ver, fazer o serviço pela metade.

    O fato novo destes novos tempos, não é a existência destas igrejas, mas sim a aceitação política delas, por gente com a origem política de Lulla e muitos de seus aliados.

    ABS

    Raymundo

    P.S. - É evidente que os !milhão e meio de fiéis não são obras partuidárias. Mas a influência destes alienados e currais eleitorais na política, mudando leis e administrações públicas, só acontecem pelo motivo que abordei a ingerência política.

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  12. Raymundo,
    Novamente afirmo a você que o meu "trabalho" de levar os leitores a uma reflexão sobre o tema foi plenamente realizado. E acho que até consegui um êxito extra. Em vez de ficar em uma inócua discussão sobre qual partido tem mais responsabilidade sobre o promíscuo relacionamento entre igreja e Estado, resolvi fazer questionamentos aos órgãos que efetivamente podem resolver o problema: o Ministério Público e o Poder Judiciário. Se você lesse a Constituição, saberia que o princípio da liberdade de crença cerceia demais a atuação do Poder Executivo, que não pode coibir ou turbar o funcionamento dos cultos de qualquer religião. Mas o Poder Judiciário pode condenar os canalhas que se aproveitam da boa-fé de seus fiéis para enriquecerem e se tornaram politicamente mais poderosos. Há pelo menos duas condutas criminosas recorrentes em seus atos: charlatanismo, curandeirismo e formação de quadrilha. Penso que, nesse jaez de mostrar as causas do problema e de cobrar das autoridades a devida atuação, meu trabalho foi completo.

    Saudações

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  13. Prezado All Mon

    Acho que o debate foi muito bom e esclarecedor. Em momento algum, quis desqualificar o seu trabalho. Apenas apontar outras vertentes, e fatos novos a serem considerados, como a entronização destes igrejas nas hostes de quem se diz de esquerda, ou é defendido como um governo popular, em espúria aliança.

    Saudações

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